quinta-feira, 1 de outubro de 2009

DESMATAMENTO

Desmatamento

Depois da mata Atlântica, a Amazônia

Ronaldo Decicino*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação
Divulgação/Greenpeace
Queimadas são utilizadas para áreas férteis da floresta darem lugar à agricultura ou pecuária
O desmatamento é uma das intervenções humanas que mais prejudicam a sustentabilidade ambiental do planeta. Seus impactos podem causar sérios danos ao clima, à biodiversidade e às pessoas. Pode-se dizer que o desmatamento nas florestas brasileiras começou com a chegada dos portugueses ao nosso país, em 1500.

Interessados no lucro do comércio de pau-brasil, os europeus iniciaram a exploração da mata Atlântica, que cobria 15% do que atualmente é o território nacional, espalhando-se por aproximadamente 1,3 milhão de km2 na área litorânea do Brasil - do Rio Grande do Norte ao litoral de Santa Catarina.

No entanto, a destruição em larga escala da Mata Atlântica iniciou-se na segunda metade do século 19, quando o espaço passou a ser ocupado pela lavoura de café. Atualmente, existem apenas 7% de sua cobertura original. Apesar de sofrer ainda devastação em diversos pontos, a Mata Atlântica é o bioma brasileiro mais bem protegido pela legislação.

Floresta Amazônica

O desmatamento em nosso país tem sido constante. Depois da Mata Atlântica, chegou a vez da floresta Amazônica. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), baseados em levantamentos por satélite, indicam que a Amazônia perdeu, até 2007, cerca de 700 mil km2 de floresta (18% da região).

A Amazônia ocupa uma área que se estende do oceano Atlântico às encostas orientais da Cordilheira dos Andes. Cobre mais de 6,5 milhões de km2 na parte norte da América do Sul, passando por nove países: Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. 69% dessa área pertence ao Brasil.

Em nosso país, esse bioma abrange os Estados do Pará, Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima, bem como parte do Estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, totalizando aproximadamente 5.217.423 km2 - a chamada "Amazônia Legal". É comum as pessoas confundirem o desmatamento na Amazônia, com o que acontece no Estado do Amazonas, e isso limita a compreensão do verdadeiro problema.

Desmatamento

O processo de desmatamento, normalmente, se inicia com a abertura oficial ou clandestina de estradas que permitem a expansão humana e a ocupação irregular de terras, visando à exploração predatória de madeiras nobres. Existe uma relação direta entre a economia e o aumento da taxa de desmatamento.

Na Amazônia, essa taxa é crescente em função de uma dinâmica voltada para atender demandas do mercado externo. Isso impulsiona atividades econômicas como a extração de madeira, a pecuária e, mais recentemente, a agroindústria.

A Floresta Amazônica está sendo devastada como se não houvesse o risco de acabar. Calcula-se que aproximadamente 20.000 km2 são desmatados anualmente em toda região amazônica. Se esse ritmo continuar, vai se chegar a um ponto em que não haverá mais volta: a maior floresta tropical do planeta será substituída por uma vegetação típica do cerrado em menos de 50 anos. Alterações significativas devem começar a ocorrer quando a perda da cobertura vegetal chegar a 20%, um índice que está muito próximo de ser atingido.

Queimadas e pastagens

Técnica comum utilizada na agropecuária, as queimadas costumam ser utilizadas para que áreas férteis da floresta cedam lugar à agricultura ou à criação de gado. O fogo, utilizado para queimar a mata e dar lugar às lavouras e aos pastos, leva consigo árvores centenárias e destrói o habitat de inúmeras espécies animais e vegetais, consumindo a pouca riqueza natural do solo.

A soja avança sobre pastos antigos e capitaliza pecuaristas que abrem cada vez mais novas áreas na mata. Até 2004, só no Brasil, cerca de 1,2 milhão de hectares de florestas foram convertidos em plantações de soja. Cerca de 12% da Amazônia virou pasto. Os agricultores costumam desmatar a floresta para plantar capim (visando a criação de gado) ou desenvolver cultivos agrícolas.

A curto prazo (de um a três anos, no máximo) tem-se a impressão de que a agricultura e a pecuária são lucrativas. Mas, depois de alguns anos, o solo se esgota e a terra torna-se cada vez menos produtiva.

As facilidades de créditos oferecidas por bancos da região para o setor da pecuária e para o fortalecimento da agricultura contribuíram ainda mais para o desmatamento nos últimos tempos. As inúmeras clareiras abertas na floresta expõem o solo à erosão e impedem a realização de mecanismos próprios para a recuperação do ecossistema original.

Madeireiras e estradas

Atualmente, há mais de 3 mil empresas cortando árvores na Amazônia - a geração de empregos criados pelas madeireiras só perde para atividades como a agricultura e a pesca. A soma da área de madeireiras estrangeiras instaladas na Amazônia totaliza uma área maior que a Bélgica.

Para cada unidade retirada, os madeireiros danificam pelo menos outras 15 árvores, pois ao cair, um único tronco leva consigo outros cinco ou seis, presos a ele por cipó, além de avariar outros tantos que estiverem em seu caminho. Desde 2003 foram apreendidos mais de 700 mil m3 de madeira em tora provenientes da extração ilegal.

Com o crescimento econômico causado por atividades como pecuária e extração de madeiras, ocorre também o aumento da população da região Norte, que, aliado às ações ilegais de madeireiros e às pressões urbanas, causam grande impacto ecológico. A colonização se dá ao longo das estradas clandestinas. Mais de 80% das queimadas acontecem perto das rodovias.

O tamanho das áreas de desmatamento está de certa forma ligado diretamente à distância das estradas, uma vez que a instalação de novos grupos geralmente ocorre próximo às estradas antigas e novas, abertas na floresta.

Em nenhum lugar do mundo tantas árvores são derrubadas como na Amazônia, segundo dados da ONU. No Brasil, a derrubada de árvores é 30% maior que na Indonésia, a segunda colocada em devastação ambiental. Para cuidar de toda área da Amazônia Legal, o Ibama conta com 257 fiscais, ou seja, um funcionário para cada 18.500 km2.
*Ronaldo Decicino é professor de geografia do ensino fundamental e médio da rede privada.

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